abril 05, 2010

Fabrico Próprio

Fui despertado para esta nota pela leitura de um artigo na revista “Gastronomica – The Journal of Food and Culture” que fazia referência ao projecto “Fabrico Próprio”.
“Fabrico Próprio” é uma expressão que me habituei a ver em diversas pastelarias, sobretudo do Continente. Em muitos casos, pelo aspecto do estabelecimento, sempre pensei que se tratava de publicidade enganosa.
Hoje só posso pensar, que salvo escassas e honrosas excepções, se trata de uma frase que, tendo sido verdadeira um dia, ficou, pelo trabalho que daria a retirar, inscrita na montra para a posteridade.
Nos dias de hoje já quase não há “Fabrico Próprio”!
Lembro-me, no Faial, de diversos bolos e bolachas, que comia amiúde, muitos dos quais os contemporâneos dos meus filhos já nem o nome conhecem.
Jesuítas, palmiers, garraios, canelas, picos, folhados de coco, queijadas (no Faial chamavam-se queijadas a quase todos os bolos que partilhavam o formato com o bolo de queijo que lhes deu esse nome) de mel, rosquilhas de manteiga e de coco, palitos de limão e de cacau, carcavelos, bolachas nº2, cavacas e roscas de água.
Grande parte disto já se perdeu. Ou já não se faz ou produz-se com técnicas e matérias-primas que transformaram, para pior, aromas, sabores e texturas.
Lembro-me das queijadas de nata (as únicas que se faziam no Faial na altura) que nada tinham a ver com os tão conhecidos pastéis de nata, mas eram igualmente saborosas.
Hoje já praticamente não se fazem pastéis de nata nos Açores. Vêm todos pré congelados de fábricas sedeadas em outras paragens e que os produzem exactamente iguais.
É o resultado da globalização e da normalização que também avança sem dó nem piedade no domínio da gastronomia, apagando memórias, aniquilando diferenças e gerando, mais vezes do que o desejável, coisas que não fazendo mal a alguém agradam a ninguém.
Mas há cada vez mais gente em busca da genuinidade das coisas simples e únicas, o que abre espaço e cria oportunidade para negócios bem sucedidos de “Fabrico Próprio”.
A defesa do “Fabrico Próprio” é uma espécie de “ambientalismo de pastelaria”!

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