abril 25, 2016

Vai ao pão?

Para mim o croissant deve ter uma massa amanteigada e levemente folhada.
Há uns anos, tentado pelo aspeto exterior da coisa e necessitado do pequeno almoço, entrei numa "A Padaria Portuguesa" e, por descuido, pedi, sem os ver, um croissant misto e um leite com chocolate frio.
Gelei por causa do croissant ser de brioche. Uma massa adocicada, espessa e pesada.
Estava pago, só tinham esses croissants, eu estava com fome e sem pachorra para argumentar em favor de um entendimento mais favorável ao meu gosto pessoal.
E pronto! Eis como se faz um sacrifício fora da Quaresma!
Em muitos meses olhei "A Padaria Portuguesa" pelo canto do olho. Continuava com bom aspeto, mas "quem vê caras não vê corações" e "gato escaldado de água fria tem medo".
No final do ano passado a minha filha, falando-me convictamente das qualidades do pão de deus da "A Padaria Portuguesa", lá me convenceu a passar a porta de uma das suas lojas.
Valeu a pena! O pão de deus era bom. Tão bom que me endireitou a forma como olhava para "A Padaria Portuguesa"!
Hoje passei numa "A Padaria Portuguesa" e entrei. Não foi para um pão de deus e croissant, apesar de tudo, aqui nunca mais! O que comi estava suscetível de melhorias, mas ao nível que se deve esperar, quando nos procuramos, apenas, alimentar.
Viro a cabeça para observar o movimento da Álvares Cabral e os meus olhos cruzam-se com uma parede onde se penduravam referências de imprensa à "A Padaria Portuguesa", uma das quais batizada com o título: "Há quanto tempo não vai ao pão?"
Eis-me, finalmente, no ponto de partida!
Ia-se ao pão, à padaria, sobretudo de manhã cedo, porque ele era presença obrigatória ao pequeno almoço.
Hoje só vou ao pão ao fim de semana, ainda de manhã cedo, mas ao café.
O "meu" café é o Volga, na Horta, onde ainda hoje não se vende pão. Quando me passei para São Miguel o mais substancial que se poderia lá mastigar eram uns pregos ou umas sandes de carne assada, mas agora já se comem umas sopas, uns hambúrgueres, algumas francesinhas e um ou outro bitoque.
Estou na "A Padaria Portuguesa", onde há pão. No meu almoço o pão apenas serviu para panar o croquete e o rissol que deram lastro à sopa, agradável, que comi. Muita gente entrou e saiu. Muita gente almoçou, mas dela apenas uma parte comeu sandes e, assim, pão. Muitas pessoas tomaram café, e alguns adoçaram-no com um bolo. Poucos, muito poucos, vieram ao pão!
Como está diferente a nossa vida!
Primeiro mandou a especialização de quem produzia, mas agora segue-se a necessidade de quem consome.
Ainda se vai ao pão à padaria. Mas nos dias que correm lá vamos, sobretudo, matar a fome, satisfazer a gulosice, conviver com os amigos ou simplesmente desafiar o nosso pensamento. (Escrito a 2016.03.01)