Na Horta
havia três padarias.
A
Padaria Faial, que ficava no Largo do Bispo, junto às atuais instalações do Grémio
Literário Artista Faialense, era, julgo, a mais pequena. Para além de pão de
trigo produzia uns pequenos pães de massa sovada, que eram bem conhecidos e
apreciados, e uma diversidade de bolachas e biscoitos, de entre os quais me
recordo das bolachas de manteiga, de formato circular e parecidas com as de
água e sal.
Quase
do outro lado da rua ficava a Padaria da Sociedade Cooperativa Previdência
Operária, que era a maior de todas. As suas instalações ocupavam o edifício
onde nos dias de hoje opera a Caixa Económica da Misericórdia de Angra do
Heroísmo, que absorveu uma caixa económica que era da mesma sociedade a que
pertencia a padaria.
A
Padaria Operária, como era comummente conhecida, produzia pão e um conjunto
apreciável de secos, termo que se utilizava, pelo menos na minha família e seus
conhecidos, para designar genericamente as bolachas e biscoitos. Lembro-me bem
dos palitos de limão, que eram bem rijos, mas bem apaladados, e das bolachas de
água e sal, que ainda hoje, embora produzidas pela Padaria Popular que,
entretanto, adquiriu a sua operação, são do melhor que existe no seu segmento.
A
Padaria Popular, a única que resistiu, tinha as suas instalações industriais na
Rua Dr. Freitas Pimentel e um ponto de venda, ainda hoje existente, na “Rua
Direita”. Das três padarias era a que tinha uma oferta mais distinta, quer no
segmento do pão, quer no das bolachas e biscoitos. Era, contudo, a sua produção
de pastelaria semi-industrial que a diferenciava.
Há
anos que trago na memória a nota, transmitida pelo meu pai, de que a introdução
da pastelaria semi-industrial na Horta se teria ficado a dever a um pasteleiro
continental, chegado ao Faial, para a Padaria Popular, pela mão de um seu
proprietário que era oriundo do Continente.
Marçal
Marques Correia, que adquiriu a Padaria Popular ao herdeiro da sua fundadora,
era continental e vizinho, na sua terra natal, de uma padaria!
O
Jesuíta, de acordo com a obra “Fabrico Próprio”, é um bolo de “massa folhada”,
em forma de triângulo, recheado de “doce de ovos, gila e canela. Cobertura de glacê
real ou amêndoa triturada e clara de ovo”.
Julga-se
que o Jesuíta chegou a Santo Tirso, vindo de Bilbao, trazido pelas mãos de um
pasteleiro espanhol, que terá sido cozinheiro de padres da Companhia de Jesus,
contratado para a Confeitaria Moura, em atividade desde 1892.
Sempre
me lembro de a Padaria Popular produzir o Jesuíta na sua variante com glacê
real.
Por
São Miguel encontravam-se alguns Jesuítas, da variante coberta com amêndoa
triturada e clara de ovo, dos quais não me esqueci, por causa da sua boa
qualidade, do da Pastelaria Brito, infelizmente, não só por causa dos Jesuítas,
já extinta. Só muito recentemente vi e experimentei Jesuítas com glacê real,
que não recomendo!
Pelo
Continente é fácil encontrar Jesuítas. Dos que conheço, e já conheço muitos, é
obrigatório deixar registo e recomendar vivamente os Jesuítas do Califa, na
variante de cobertura com amêndoa triturada, da Pastelaria Versailles e, é
claro, da Confeitaria Moura, com cobertura de glacê real.
Há uns
meses provei um no Funchal. Nunca os tinha visto por lá. Foi na A Confeitaria. Não
me deslumbrou nem me desencantou! Apenas agradou!
O glacê,
não sendo um primor, em regra não compromete. Duvido da presença da gila no creme que dá humidade ao bolo, cujo sabor é sempre marcado pela canela, mas o grande problema é a massa, que
muitas vezes não fica suficientemente folhada ou cozida.
Mas num dia sim o Jesuíta da Padaria Popular deve repetir-se! É uma maravilha! Um figo!
Mas num dia sim o Jesuíta da Padaria Popular deve repetir-se! É uma maravilha! Um figo!