Para mim o croissant deve ter uma massa
amanteigada e levemente folhada.
Há uns anos, tentado pelo aspeto
exterior da coisa e necessitado do pequeno almoço, entrei numa "A Padaria
Portuguesa" e, por descuido, pedi, sem os ver, um croissant misto e um
leite com chocolate frio.
Gelei por causa do croissant ser de
brioche. Uma massa adocicada, espessa e pesada.
Estava pago, só tinham esses croissants,
eu estava com fome e sem pachorra para argumentar em favor de um entendimento
mais favorável ao meu gosto pessoal.
E pronto! Eis como se faz um sacrifício
fora da Quaresma!
Em muitos meses olhei "A Padaria
Portuguesa" pelo canto do olho. Continuava com bom aspeto, mas "quem vê
caras não vê corações" e "gato escaldado de água fria tem medo".
No final do ano passado a minha filha,
falando-me convictamente das qualidades do pão de deus da "A Padaria
Portuguesa", lá me convenceu a passar a porta de uma das suas lojas.
Valeu a pena! O pão de deus era bom. Tão
bom que me endireitou a forma como olhava para "A Padaria
Portuguesa"!
Hoje passei numa "A Padaria Portuguesa"
e entrei. Não foi para um pão de deus e croissant, apesar de tudo, aqui nunca
mais! O que comi estava suscetível de melhorias, mas ao nível que se deve
esperar, quando nos procuramos, apenas, alimentar.
Viro a cabeça para observar o movimento da
Álvares Cabral e os meus olhos cruzam-se com uma parede onde se penduravam
referências de imprensa à "A Padaria Portuguesa", uma das quais
batizada com o título: "Há quanto tempo não vai ao pão?"
Eis-me, finalmente, no ponto de partida!
Ia-se ao pão, à padaria, sobretudo de
manhã cedo, porque ele era presença obrigatória ao pequeno almoço.
Hoje só vou ao pão ao fim de semana,
ainda de manhã cedo, mas ao café.
O "meu" café é o Volga, na Horta,
onde ainda hoje não se vende pão. Quando me passei para São Miguel o mais
substancial que se poderia lá mastigar eram uns pregos ou umas sandes de carne
assada, mas agora já se comem umas sopas, uns hambúrgueres, algumas
francesinhas e um ou outro bitoque.
Estou na "A Padaria
Portuguesa", onde há pão. No meu almoço o pão apenas serviu para panar o
croquete e o rissol que deram lastro à sopa, agradável, que comi. Muita gente
entrou e saiu. Muita gente almoçou, mas dela apenas uma parte comeu sandes e, assim,
pão. Muitas pessoas tomaram café, e alguns adoçaram-no com um bolo. Poucos,
muito poucos, vieram ao pão!
Como está diferente a nossa vida!
Primeiro mandou a especialização de quem
produzia, mas agora segue-se a necessidade de quem consome.
Ainda se vai ao pão à padaria. Mas nos
dias que correm lá vamos, sobretudo, matar a fome, satisfazer a gulosice,
conviver com os amigos ou simplesmente desafiar o nosso pensamento. (Escrito a
2016.03.01)